Arquivo do mês: julho 2012

por que os argentinos fazem filmes melhores que os nossos

Oi Marcos.
A pergunta que você me faz é bastante difícil de responder. Para começar, eu preciso concordar com sua premissa, mas acho-a muito “generalista”. Há alguns bons diretores no Brasil, como há diretores não tão bons na Argentina. De qualquer forma, o cinema argentino atualmente me interessa mais que o brasileiro, por dois motivos principais: eles me falam de coisas mais significativas e atuais, numa linguagem mais forte.
Penso que o cinema brasileiro, se posso generalizar, como você fez, padece de dois problemas centrais. Primeiro, a má formação cultural de alguns diretores e técnicos (precária cultura visual, dramatúrgica, literária e cinematográfica); percebe-se que eles têm dificuldades para dirigir os atores, para explorar de maneira forte e singular a linguagem com que estão lidando (o trabalho dos diálogos, enquadramentos, iluminação, montagem etc.), que eles não viram ou não estudaram os grandes filmes e diretores, que não refletiram sobre o cinema, que não leram os livros importantes, que se apegam a fórmulas visuais consagradas e estilos fáceis e convencionais de dramaturgia.
Em segundo lugar, raramente consigo captar a necessidade que moveu os realizadores brasileiros a criar seus filmes, a razão por que decidiram fazê-los, a quem pretendem falar, sobre que aspecto da vida (brasileira ou em geral) querem lançar luz. São produções anódinas, que parecem não ter objetivo nenhum, nem mesmo a de arrebatar o público (o que me leva a dizer que alguns dos melhores filmes brasileiros atuais são justamente os mais comerciais, pois ao menos têm por interesse entreter a plateia e se esmeram para alcançar esse objetivo).
Qualquer coisa, por favor me escreva.
Um abraço e boa sorte no blog.
Alcino


DINHEIRO NA MÃO

 

meu amigo.

sei que você se mata de tanto trabalhar. mas tem o lado bom que é o dinheiro. aliás, qualquer lado do dinheiro é bom, não sendo pouco. Se bem que um pouco é melhor que nada. pode acontecer de ser menos que pouco, mas será sempre dinheiro. quase nada, é verdade. pensando bem, devolva essa esmola. deve ter outros precisando mais que você.

teu amigo.


COLABORARAM COM ESTA EDIÇÃO

Alcino Leite Neto – jornalista e  editor de moda da Folha de S. Paulo

Diogo Berindoague Nascimento – meu filho

Geraldo Veloso – cineasta

Gore Vidal – escritor

Ivan Lessa – jornalista e escritor

Ludmila Azevedo – jornalista

Manfred Geier – escritor

Marcela Dalli – professora de francês e tradutora

Marcelo Kraiser – artista plástico, poeta e professor da Escola de Belas Artes da UFMG 

Mário Queiroz – estilista, colunista e professor de Design de Moda

Nora Regina Vaz de Mello Ribeiro – coordenadora da área de capacitação e intercambio da Secretaria do Estado de Cultura

Rainer Maria Rilke – poeta

Renato Megale – editor de vídeo e efeitos especiais

Tomás Lafetá – estudante de Letras

valter hugo mãe – escritor

Vladimir Safatle – jornalista, filósofo, professor universitário e colunista da Folha de S. Paulo

Woody Allen – cineasta


A PARTÍCULA DO ADEUS

pode ser que se tenha descoberto, no CERN, na Suíça, o bóson de Higgs – a partícula de Deus. estará confirmada, definitivamente, a morte de Deus? em todo caso, vai ficando cada vez mais evidente que não foi deus quem criou o Universo, mas sim a célebre partícula, teoricamente surgida logo após ao Big Bang e responsável pela origem da massa das outras partículas elementares. e está presente em toda parte. se não foi Deus quem criou todas as coisas na terra e no céu, nos mares e na Bahia de Gal e Caymmi, pra que serve Deus?

Gott ist tot

Friedrich Nietzsche já havia decretado a morte de Deus em 1882 (A gaia ciência), mas ao que parece muita gente não acreditou e a divindade seguiu vivendo em estado comatoso, respirando por aparelhos, até ontem. marquem aí a data. 04 de julho de 2012. agora nós, ateus, vamos datar o tempo com base nos eventos ocorridos a.h. e d.h. – antes de Higgs e depois de Higgs.

O bóson de Higgs


O escocês Peter Higgs previu em um artigo publicado em 1964 no periódico científico Physical Review Letters que é uma partícula o que dá massa à matéria. Chamada de bóson de Higgs, em homenagem ao britânico, ela é mais conhecida como  “partícula de Deus”  e seria a última peça no quebra-cabeça do Modelo Padrão, a teoria que descreve as partículas elementares.

Segundo o Modelo Padrão, os bósons são as partículas que interagem com outras e criam as forças fundamentais – forte e fraca -, que atuam no núcleo atômico, e eletromagnética (há ainda a gravidade, para a qual alguns teóricos defendem existir o gráviton, ainda não comprovado). Higgs afirmou que a massa não seria das próprias partículas, mas resultado da ação de um bóson que reage mais com umas do que com outras.

Como isso ocorre? Os físicos explicam que as partículas colidem com o bóson de Higgs e ficam mais lentas, o que lhes dá massa – e isso difere elas das partículas de pura energia, como o fóton. Algumas colidem mais, outras menos, e isso explica a diferença na massa.

Tendo como primeiro objetivo achar o bóson de Higgs, o Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern, na sigla em francês) construiu o LHC, um dos experimentos científicos mais caros da história.

Com informações da AFP

 Terra

IDIOTAS SEM FRONTEIRAS

eles pensam que nós somos idiotas. e têm certeza que a nossa idiotice não tem limites. assim como a Cultura ganhou autonomia da Educação, a Arte tem de ser libertada da Cultura. Cultura conserva, a arte cria e destrói. transforma. desestabiliza. tudo o que a Cultura não quer. existe uma Lei. é pra ser cumprida. existe um estado. a lei é circunscrita a um determinado espaço. existe o Incentivo. o governo está com vontade. e existe a cultura. um balaio de gatos. a seguir, os segmentos culturais contemplados pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais. pela criação da Secretaria de Estado da Arte de Minas Gerais!

Preservação e restauração do patrimônio material e imaterial, inclusive folclore e artesanato – deveria ser da alçada da Secretaria de Obras Públicas

Pesquisa e documentação – deveria ser da alçada da Secretaria da Educação

Centros culturais, bibliotecas, museus, arquivos e congêneres – Secretaria da Educação

vc acha, artista? que isso é arte? vc é um idiota.

Dança

Música Folclórica – não é Arte, é Cultura

Artes Gráficas

Design Artístico – o que é isso? eu não sei.

Música Popular

Artes Plásticas

Design de Moda – será?

Novas Mídias

Artesanato –  não é Arte, é Cultura

Filatelia – colecionar selo é arte? nem cultura é!

Novas Tendências – de quê?

Biblioteca – encerra arte, mas não é

Folclore – não é

Obras Informativas – nunca foi

Cinema

Fotografia

Obras de Referência – não é arte

Circo

Museu – só o que está dentro é arte

Ópera

Curso Música Erudita Teatro – todo curso é educação

Apresentação cênica

Publicação de jornal – vai depender muito

Apresentação musical

Publicação de livro

Aquisição de acervo – é no máximo compra de arte já produzida

Publicação de revista – depende

Aquisição de equipamento – de quê?

Publicação de vídeo – talvez

Bolsa de estudos – educação, claro!

Realização de atividades de arte-educação – educação

Circulação de produção artística – será arte no sentido estrito?

Realização de campanha artístico-cultural – arte não é

Criação e manutenção de site – depende

Realização de concerto

Educação patrimonial – de jeito nenhum!

Realização de concurso – é o cúmulo!

Feira de artesanato – é comércio

Realização de curso – depende

Formação artística – talvez

Realização de encontro artístico-cultural – pode ser

Gravação de CD

Realização de exposição artística

Manifestação folclórica – é apenas uma manifestação

Realização de feira cultural – não

Manutenção de entidade – espírita?

Realização de festival – depende

Manutenção de espaço cultural – talvez

Realização de mostra – mostra de quê? pode ser mostra de ostras

Montagem cênica

Realização de oficinas – acho que tá mais pra educação

Pesquisa e documentação – nem pensar

Realização de palestra – ora essa!

Produção de CD-ROM – ainda existe isso?

Realização de performance

Produção de documentário

Realização de programa de rádio

Produção de DVD

Realização de programa de televisão – depende

Produção de filme de curta metragem

Realização de seminário – depende

Produção de filme longa metragem

Realização de show – depende. michel teló não pode.

Produção de filme média metragem

Reforma de imóvel – esse é um assunto imobiliário

Produção de revista eletrônica

Restauração de bem imóvel – não é arte. 

Produção de vídeo

Restauração de bem móvel – tipo um automóvel? tem seguro? tem franquia?

publicação de catálogo – depende

o que está em negrito fica com a Secretaria de Estado da Cultura, o que não está vai para a nova Secretaria de Estado da Arte.


NOME PRÓPRIO DA CULTURA

VLADIMIR SAFATLE

No Brasil, os debates sobre ação cultural normalmente pecam pelo medo de afirmar as exigências da cultura em voz alta.

De um lado, há aqueles para quem os investimentos em cultura se justificam por permitir o desenvolvimento da “economia criativa”. Nessa visão, cultura é bom porque gera empregos, turismo e desenvolvimento econômico.

De outro, há os que veem a cultura como ponta de lança de serviços de assistência e integração social. Mais música e menos violência -é o que alguns gostam de dizer, como se houvesse alguma forma de relação direita possível. O que abre um perigoso flanco: se o índice de violência não baixar, o investimento em música parece perder o sentido.

Por fim, há os que compreendem cultura como um mero complemento para a educação. Todas as ações culturais devem estar integradas em um projeto educacional pedagógico.

Há de lembrar a tais pessoas que a cultura ocidental construiu seu lugar exatamente por meio da recusa dessas três tutelas. Platão e Rousseau, por mais que enunciassem pensamentos distintos, tinham ao menos a similitude de ver a arte como uma pedagogia para o bem-viver em sociedade. Não por outra razão, um expulsou os artistas de sua cidade ideal e o outro brigava para não abrirem um teatro em Genebra. Afinal, Dostoiévski, Francis Bacon, John Cage e Paul Celan não são exatamente companheiros na arte da descoberta do bem-viver. A arte serve mais para desestabilizar visões de mundo do que para referendá-las.

Já a subsunção das discussões culturais aos imperativos da nova “economia criativa” é só mais uma maneira de justificar a lógica de mercador de certos administradores culturais. Assim, eles podem financiar o que circula mais, já que a alta circulação é o critério fundamental para a avaliação dos processos de produção econômica.

Como Britney Spears sempre circulará mais do que Anton Webern, fica justificada a transformação do Estado em departamento de desenvolvimento de subprodutos culturais para a indústria. Daqui a pouco, teremos baile funk pago pela Secretaria da Cultura (ainda por cima, com a desculpa de que se trata de manifestação popular).

Mas o Brasil mereceria um debate cultural que não precisasse de muletas para se justificar e que não tentasse perpetuar falsos dilemas -como cultura elitista x cultura popular, cultura dos países dominantes x cultura da periferia e outros absurdos do gênero.

Aqueles que acreditam que a cultura serve, sobretudo, para desestabilizar visões de mundo e compreender a força crítica das formas estéticas deveriam parar de falar em voz baixa.

Folha de São Paulo – 03.07.2012